Isso é piada ou é para chorar? Será que o cientista lembra de Dilma na eleição de 2018 e muitas outras? Ele é diretor de instituto
As pesquisas eleitorais feitas no Brasil têm nível de qualidade à altura dos melhores mercados do mundo. E cabe aos veículos de comunicação e aos analistas ajudar a sociedade na compreensão dos levantamentos.
Essa opinião é do cientista político e sociólogo Antonio Lavareda. Ele falou sobre o assunto em entrevista à série Grandes Temas, Grandes Nomes do Direito. Nela, a revista eletrônica Consultor Jurídico conversa com alguns dos nomes mais importantes do Direito e da política sobre os temas mais relevantes da atualidade.
“Os institutos brasileiros desenvolvem pesquisas de opinião há pelo menos 80 anos. Alguns deles desenvolvem pesquisas telefônicas, como o nosso Ipespe (Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas), desde o início dos anos 90 do século passado, e têm uma metodologia e uma excelência reconhecidas internacionalmente”, disse o especialista, citando como exemplo o fato de a CNN Portugal ter contratado o Ipespe em duas eleições neste ano.
Lavareda ponderou que é necessário, na divulgação das pesquisas para a audiência, deixar claro que elas medem opiniões superficiais sobre os fenômenos sociais, políticos e econômicos, sem exagerar, nem minimizar resultados.
“É muito importante que, na interpretação das pesquisas, os veículos de comunicação ajudem o conjunto da sociedade a entender exatamente o que foi medido, não superestimar, nem subestimar o papel das pesquisas de opinião. Elas são, frequentemente, extremamente úteis, sobretudo em governos democráticos, para ajudar a elite política a conhecer a opinião dos cidadãos e, ao mesmo tempo, ajudar os cidadãos a conhecer a opinião dos concidadãos, ou seja, dos outros indivíduos daquela sociedade”.
Sistema eleitoral proporcional obsoleto
O cientista político acredita que o sistema eleitoral proporcional brasileiro, com características únicas no mundo, está totalmente obsoleto. O modelo atual impõe um desafio ao eleitor para conseguir escolher o melhor candidato e até para se lembrar da escolha que fez, o que também é registrado pelas pesquisas de opinião pública.
Lavareda destaca que, em setembro do ano passado, um levantamento do Ipec mostrou que apenas 27% dos entrevistados disseram que sabiam o nome do deputado ou deputada no qual haviam votado nas eleições de dez meses antes.
“Esse sistema eleitoral proporcional só existe com essas características no Brasil — voto proporcional de lista desordenada, uma série de nomes e grandes colégios eleitorais, como São Paulo, Minas, Rio, Pernambuco, Bahia etc., não existe em nenhum outro lugar. E isso dá lugar a situações absolutamente extravagantes”.
Conforme ele observou, nas eleições de 2022 o estado de São Paulo tinha 1.540 candidatos a deputado federal, o que impede uma escolha racional do eleitorado, sem condições de comparar as candidaturas.
“Imagine se, em uma prova de alternativas, na qual o candidato tem de escolher uma correta, houvesse 1.540 alternativas. Certamente, nenhum candidato responderia. Provavelmente, pegaria a sua prova e sairia correndo, tal a insanidade do certame. Está mais do que passado o tempo de o Brasil resolver isso”, disse Lavareda.
“O eleitor que não lembra do seu deputado federal equivale, sinteticamente, àquele cidadão ou cidadã que contrata um advogado ou uma advogada para tratar dos seus interesses, passa uma procuração e, dez meses depois, esquece o nome do advogada ou da advogada e o seu endereço. Ele esquece, mas o advogado ou a advogada tem a procuração durante quatro anos, e aí talvez não vá tratar dos interesses do cidadão, vá tratar dos seus próprios interesses”.
Fonte: Conjur